Rascunhos da Alma, dedicado à literatura poética. 

Tradicionalismo/RS

Tradicionalismo/RS

 

 

 

 

 

História do RS

 

Nos primórdios de meu Rio Grande, Indígenas, habitavam suas terras, guerreiros valentes e valorosos os Tapes, Guaranis e Charruas. Entre os nativos da terra, uma lenda existia que homens com uma cruz chegariam. Sob as leis de Felipe II, Rei da Espanha a cruz chegou e, com ela, os jesuítas assumiam. No início do século XVII, os padres se dedicaram  e na vasta região formada pelos Estados do Rio Grande, Paraná, Argentina e Paraguai, as missões, os Jesuítas fundaram.

Com a ajuda dos Jesuítas o gado aqui chegou e nesse solo bendito, o gado se multiplicou e alimentava os indígenas que só conheciam   frutos da terra e peixes dos rios. Até 1640 várias expedições nos visitaram  como os Bandeirantes de São Paulo que se aventuraram  de longe, para aqui guerrearem. O objetivo era capturar indígenas, gado e provocar o fim das Missões no Estado. Com auxílio dos jesuítas, os indígenas venceram a batalha e nosso Rio Grande aboliu a guerra,  no final do século, em virtude dos constantes conflitos

Entre as Nações de Portugal e Espanha os Jesuítas e indígenas ocuparam, uma área segura, ao Noroeste do Estado e assim criaram os Sete Povos das Missões e cada Povo com o nome de um Santo. Ali eram prósperos e independentes  Até que por um tratado de reis, seu fim foi decretado.

No cumprimento do tratado, permutas foram feitas e quem sofreu com o fato, foi o povo missioneiro que deixou como legado para a posteridade os grandes rebanhos de bovinos e os cavalos. Contam que os Sete Povos das Missões foram fundados com a colonização jesuíta unindo reduções por exploradores destruídas e de seus nomes antigos surgiram nossas cidades.

São Francisco de Borja  foi fundada em 1682 Sob a orientação do Padre Francisco Garcia, mas foi o irmão José Brazanelli quem construiu a Igreja e as casas do povo.

São Luiz Gonzaga  foi fundada em 1687 pelos descendentes das antigas reduções de São Joaquim e Santa Tereza. Seu primeiro curador foi Padre Miguel Fernandes.

São Nicolau  foi fundada em 1687 e uniu a redução de São Nicolau com

os nativos dos Tapes dirigida pelo padre, Anselmo de La Mata.

São Miguel Arcanjo foi fundada em 1632 cuidada pelo Padre Cristovão de Mendonça que ali, construíram as casas e a Igreja com a ajuda dos nativos Guaranis.

São Lourenço Mártir  foi fundada em 1690, com os nativos de Santa Maria Maior descendentes dos fugitivos do Gaíra liderada pelo Padre Bernardo de La Veja.

São João Batista  foi fundada em 1597 liderada pelo Padre Antonio Sepp um grande arquiteto, que construiu a Igreja e o sino ao badalar, mostrava os 12 apóstolos.

Santo Ângelo Custódio em 1687 abrigou um grande número de nativos

que na ocasião fugiram dos bandeirantes e seu fundador foi Padre Diogo de Hasse.

Os Jesuítas tentaram todo povo catequizar, mas como em toda humanidade, Sempre tem irmãos a brigar, apenas os Guaranis conseguiram evangelizar. Com os índios Guaranis, conseguiram trabalhar e usar a sua arte, para obras primas imitar guardadas como preciosos tesouros, pois de perfeição, os nativos eram dotados.

Usando da inteligência, os indígenas e jesuítas enterraram os tesouros, em  longínquos  sítios, onde crescem as verdes gramas dos pagos cobertos por plantações de milho. A República Guarani não se tornou independente, pois Jesuítas e indígenas deviam obediência ao poderoso trono Espanhol com respeito às leis e a com  pagando de impostos. Entre rebeliões e invasões vivia este povo armados, críticas e pressões foram tantas que derrotaram os padres santos.

 

Assim foi deflagrada a Guerra Guarani e deram seu grito de guerra sob a liderança de Sepé Tiaraju, pois, aos invasores, não dariam as terras. A batalha Guaratiníca teve seu início com os soldados muito bem armados e os indígenas desorganizados e desarvorados mancharam de sangue o rincão abençoado. Foram dois anos de sangrenta luta onde índios foram esquartejados, mulheres, brutalmente violentadas e crianças, desde a tenra idade assassinadas.

Na cidade de Caibaté, grande tem um monumento erguido como atributo as vidas ceifadas erguido após o massacre.

Já estavam os Povos quase todos devastados e mortos, boa parte de seus guerreiros, quando os Reis e o Tratado de Madri anularam. Indígenas e Jesuítas cruzaram o Rio Uruguai e retornaram aos Sete Povos para reconstruir, nos mesmos lugares onde estavam assentados com a esperança de um novo porvir, mas a trégua foi pequena e, em golpe certeiro mais uma vez, por medidas drásticas a República Guarani vê seus sonhos transformados em suspiros derradeiros.

Passaram os anos com novas lutas e invasões, os Indígenas missioneiros lutaram pela Espanha até que,  Espanha e Portugal se acertaram e unidos, os jesuítas, dos reinos expulsaram. Decretou-se o final da República Guarani,  que agonizou por algumas dezenas de anos, e foi desmantelada no século XIX e quase todos os seus índios exterminados.

Dois majestosos fortes os guaranis construíram  Santa Teresa e Santa Tecla, ainda hoje existentes, próximos à fronteira com o Brasil, pouco além do Chuí, para impedir a entrada no Brasil de portugueses. Os indígenas missioneiros não puderam impedir, no entanto, que os portugueses se fortificassem na cidade de Rio Grande com a  colonização de casais açorianos,  que ocuparam todo o litoral gaúcho.

Os Indígenas guaranis tinham seu valor eram, pois eram excelentes e criativos artesões na pintura, modelagem e escultura e deixaram no País, grandes criações. Nas ruínas das Missões ainda é encontrado suas obras e valiosas estátuas que não perdiam nada para a Europa e daqui

Foram levadas. De suas igrejas ricas e imponentes, o que se sabe é que sobrou pouco, Em São Miguel (Brasil), Trinidad e Jesus (Paraguai)  e San Ignácio Mini (Argentina).

 

 

 Lendas do RS

  “A História conta as Lendas e as Lendas fazem Estórias”.

(Mitos e Lendas do RS, Antonio A. Fagundes).

 

As Lendas registram episódios heróicos ou sentimental, transmitidas através de gerações no uso da palavra oral, a qual, de acordo com a entonação, trazia o encantamento ou, o medo entre os ouvintes, atualmente, muitas são contadas em versos e prosas. Na maioria das vezes, o objeto da Lenda quase sempre, recebe características sobrenaturais, misturando fatos reais e históricos com acontecimentos que são frutos da imaginação, conservando as quatro características do conto popular: ambigüidade, persistência, oralidade e anonimato.

Nosso Rio Grande do Sul possui inúmeras as quais, deixarei aqui registradas, para que nossa cultura seja conhecida através das fronteiras dos Pampas.

 

Lenda Angoéra (Fantasma, em guarani).

Nos sete Povos das Missões, no Pirapó, no tempo dos Padres Jesuítas, vivia um índio muito triste, que se escondia de tudo e de todos pelos matos. Era um verdadeiro fantasma e, por isso era chamado de Angoéra (fantasma em Guarani) e, fugia da Igreja como o diabo da cruz. Mas, um dia, a paciência dos Padres valeu mais e ele foi batizado, convertendo-se a fé cristã e deixando de vagar pelos rincões escondidos. Recebeu o nome de Generoso e tornou-se alegre e amigo de festas. Morreu, mas sua alma festeira continua pelos Pampas e, onde tem fandango, lá está a Alma de Generoso. Se rufa uma viola sozinha, se ecoa uma risada galponeira e, se a saia de uma moça levanta de repente são sinais de sua presença. Quando ocorre ele é homenageado e o tocador canta:

“Eu me chamo Generoso, morador de Pirapó, gosto muito de dançar com as moças, de paletó”

 

Lenda São Sepé

Sepé era um índio valente e bom, que lutou contra os estrangeiros para defender a terra das missões. Ele era predestinado por Deus e São Miguel, tinha nascido com um lunar na testa. Nas noites escuras ou em pleno combate, o lunar de Sepé brilhava, guiando seus soldados missioneiros. Quando ele morreu, vencido pelas armas e o número de portugueses e espanhóis, Deus Nosso Senhor retirou de sua testa o lunar, que colocou no céu dos pampas para ser o guia de todos os gaúchos - é o Cruzeiro do Sul.

 

Lenda da Casa de MBororé  (Missões)

No tempo dos Sete Povos das Missões, havia um índio velho muito fiel aos padres jesuítas, chamado MBororé.  Com a chegada dos invasores portugueses e espanhóis, os padres precisaram fugir levando em carretas os tesouros e bens que pudessem carregar. Assim, amontoaram o muito que não podiam levar consigo – ouro, prata, alfaias, joias, tudo!- e construíram ao redor uma casa branca, sem porta e sem janela. Para evitar a descoberta da casa pelo inimigo e o consequente saqueio, deixaram o velho índio fiel MBororé cuidando, com ordens severas de só entregar o tesouro quando os jesuítas voltassem às Missões. Mas os jesuítas nunca mais voltaram. Com o passar dos anos, o velho índio morreu e o tempo foi marcando tudo, deixando as ruínas de pé como as cicatrizes de um sonho que acabou. Acabou? Não. A Casa de MBororé continua lá num mato das Missões, imaculadamente branca, cuidada pela alma do índio fiel que ainda espera a volta dos jesuítas.

Às vezes, algum mateiro lenhador ou caçador- dá com ela, de repente, num campestre qualquer. Imediatamente dá-se conta de que é a Casa de MBororé, cheia de tesouros. Resolve então marcar bem o local para voltar com ferramentas e abrir a casa que não tem porta nem janela. Guarda bem o lugar na memória pelas árvores tais e tais, pela direção do sol e coisas assim. Sai, volta com ferramentas, só que nunca mais acha de novo a Casa Branca de MBororé, sem porta e sem janela.

 

Lenda Salamanca do Jarau

No tempo dos padres jesuítas, existia um moço sacristão no Povo de Santo Tomé, na Argentina, do outro lado do rio Uruguai. Ele morava numa cela de pedra nos fundos da própria igreja, na praça principal da aldeia. Ora, num verão mui forte, com um sol de rachar, ele não conseguiu dormir a sesta. Vai então, levantou-se, assoleado e foi até a beira da lagoa refrescar-se. Levava consigo uma guampa, que usava como copo.

Coisa estranha: a lagoa toda fervia e largava um vapor sufocante e qual não é a surpresa do sacristão ao ver sair d'água a própria Teiniaguá, na forma de uma lagartixa com a cabeça de fogo, colorada como um carbúnculo. Ele, homem religioso, sabia que a Teiniaguá - os padres diziam isso!- tinha partes com o Diabo Vermelho, o Anhangá-Pitã, que tentava os homens e arrastava todos para o inferno. Mas sabia também que a Teiniaguá era mulher, uma princesa moura encantada jamais tocada por homem. Aquele pelo qual se apaixonasse seria feliz para sempre.

Assim, num gesto rápido, aprisionou a Teiniagá na guampa e voltou correndo para a igreja, sem se importar com o calor. Passou o dia inteiro metido na cela, inquieto, louco que chegasse à noite.

Quando as sombras finalmente desceram sobre a aldeia, ele não se sofreu: destampou a guampa para ver a Teiniaguá. Aí, o milagre: a Teiniaguá se transformou na princesa moura, que sorriu para ele e pediu vinho, com os lábios vermelhos. Ora, vinho só o da Santa Missa. Louco de amor, ele não pensou duas vezes: roubou o vinho sagrado e assim, bebendo e amando, eles passaram a noite. No outro dia, o sacristão não prestava para nada. Mas, quando chegou à noite, tudo se repetiu. E assim foi até que os padres finalmente desconfiaram e numa madrugada invadiram a cela do sacristão. A princesa moura transformou-se em Teiniaguá e fugiu para as barrancas do rio Uruguai, mas o moço, embriagado pelo vinho e de amor foi preso e acorrentado. Como o crime era horrível - contra Deus e a Igreja! - foi condenado a morrer no garrote vil, na praça, diante da igreja que ele tinha profanado. No dia da execução, todo o Povo se reuniu diante da igreja de São Tomé. Então, lá das barrancas do rio Uruguai a Teiniaguá sentiu que seu amado corria perigo. Aí, com todo o poder de sua magia, começou a procurar o sacristão abrindo rombos na terra, em valos enormes, rasgando tudo. Por um desses valos ela finalmente chegou à igreja bem na hora em que o carrasco ia garrotear o sacristão. O que se viu foi um estouro muito grande, nessa hora, parecia que o mundo inteiro vinha abaixo, houve fogo, fumaça e enxofre e tudo afundou e tudo desapareceu de vista. E quando as coisas clarearam a Teiniaguá tinha libertado o sacristão e voltado com ele para as barrancas do rio Uruguai. Vai daí, atravessou o rio para o lado de cá e, ficou uns três dias em São Francisco de Borja, procurando um lugar afastado onde os dois apaixonados pudessem viver em paz. Assim, foram parar no Cerro do Jarau, no Quaraim, onde descobriram uma caverna muito funda e comprida. E lá foram morar, os dois. Essa caverna, no alto do Cerro, ficou encantada. Virou Salamanca, que quer dizer "gruta mágica", a Salamanca do Jarau. Quem tivesse coragem de entrar lá, passasse 7 Provas e conseguisse sair, ficava com o corpo fechado e com sorte no amor e no dinheiro para o resto da vida. Na Salamanca do Jarau a Teiniaguá e o sacristão se tornaram os pais dos primeiros gaúchos do Rio Grande do Sul. Ah, ali vive também a Mãe do Ouro, na forma de uma enorme bola de fogo. Às vezes, nas tardes ameaçando chuva, dá um grande estouro numa das cabeças do Cerro e pula uma elevação para outra. Muita gente viu.

 

Lenda Negrinho do Pastoreiro

No tempo da escravidão havia um estancieiro muito rico, que criava bois e cavalos. Era muito mau e gostava apenas de seu filho, também maldoso, e de um cavalo baio, muito veloz. Entre seus escravos havia um menino muito obediente e trabalhador, a quem ninguém havia se dado o trabalho de dar um nome, sendo chamado de Negrinho. Montava muito bem, e era encarregado de pastorear os cavalos. O estancieiro foi, um dia, desafiado para uma corrida de cavalos por um vizinho. O escolhido obviamente foi o baio, que seria montado pelo Negrinho. Os dois cavalos eram excelentes corredores, mas,  no dia da corrida, sabendo que corria por sua vida, o Negrinho conseguiu impor uma certa vantagem. Quase ao término da corrida, com o baio na frente, este se assusta e empina, perdendo a corrida. Ao voltarem à fazenda, o estancieiro disse ao Negrinho que este passaria trinta dias e trinta noites pastoreando o cavalo baio e outros trinta cavalos, mas, antes de deixá-lo ir, chicoteou-o até se cansar. O pequeno escravo, louco de dor, levou os cavalos para o pastoreio e amarrou o baio. Não aguentando de dor e cansaço, adormeceu. Algumas corujas que voejavam em torno assustaram os cavalos, que fugiram. O Negrinho acordou, mas devido à cerração não conseguiu encontrá-los. O filho do estancieiro, que gostava de maltratar o menino, viu tudo e foi contar a seu pai. O Negrinho foi novamente chicoteado sem piedade, e lhe foi ordenado que voltasse para procurar os cavalos. Voltou para o pastoreio, mancando e sangrando, levando um toco de vela. Cada pingo de cera que caía, transformava-se numa luz tão brilhante, que logo tudo ficou tão iluminado que parecia dia, tornando-se fácil reunir os cavalos. De madrugada, o filho do estancieiro, que ainda não estava satisfeito com suas maldades, soltou e espantou o cavalo baio, indo contar a seu pai que o Negrinho tinha adormecido novamente e deixado os cavalos escapar. O estancieiro deu-lhe a terceira surra de chicote, até deixar o menino como morto. Mandou jogá-lo sobre um formigueiro, para não ter que mandar enterrá-lo. O corpinho foi imediatamente atacado pelas formigas, para regozijo do filho do estancieiro. Na manhã seguinte, quando o estancieiro voltou ao formigueiro, levou um imenso susto, pois o menino estava de pé, todo risonho, perto do cavalo baio e dos outros trinta cavalos. Enquanto o estancieiro olhava, o Negrinho montou no baio e partiu acompanhado dos outros cavalos, em uma nuvem de poeira dourada, e dizem que muitos já o viram passar dessa maneira.

Ele some apenas três dias por ano, para visitar o formigueiro, pois as formigas tornaram-se suas amigas. Até hoje, quando se perde alguma coisa, basta chamar pelo Negrinho do Pastoreio, que ele consegue encontrar, lenda ou não, posso autenticar por experiência própria que ele realmente ajuda a encontrar objetos perdidos.

 

Lenda A moça do cemitério

Em Porto Alegre, num ponto de taxi que fica na rua, Otto Niemayer, esquina Cavalhada, às vezes aparece uma moça loira, lindíssima, usando sempre um vestido vermelho, muito bonito e chamativo e sempre à noite. Ela toma um taxi e manda tocar para um lugar qualquer que passe pelo cemitério da Vila Nova, mas ao passar por este, ela simplesmente desaparece. Vários motoristas porto-alegrenses, muitos dos quais vivos até hoje, transportaram a moça-fantasma e repetem a mesma história.

 

Lenda O minhocão

Diz-se que na Lagoa do Armazém em Tramandaí aparecia nas águas do minhocão, uma espécie de serpente monstruosa, muito grande, olhos de fogo verde, língua também de fogo, com pelos na cabeça. Virava embarcações com rabanadas e comia nas margens, porcos e galinhas. Hoje, o povo acredita que o Minhocão deixou a lagoa e voltou para o mar.

 

Lenda Boiguaçu

Num tempo muito antigo, muito, houve uma noite tão comprida que pareceu que nunca mais haveria luz do dia. Noite escura como breu, sem lume no céu, sem vento, sem serenada e sem rumores, sem cheiro dos pastos maduros nem das flores da mataria.

Os homens viveram abichornados, na tristeza dura; e porque churrasco não havia, não mais sopravam labaredas nos fogões e passavam comendo canjica insossa; os borralhos estavam se apagando e era preciso poupar os tições...

Os olhos andavam tão enfarados da noite, que ficavam parados, horas e horas, olhando, sem ver as brasas vermelhas do nhanduvai... as brasas somente, porque as faíscas, que alegram, não saltavam, por falta do sopro forte de bocas contentes.

Naquela escuridão fechada nenhum tapejara seria capaz de cruzar pelos trilhos do campo, nenhum flete crioulo teria faro nem ouvido nem vista para bater na querência; até nem sorro daria no seu próprio rastro!

E a noite velha ia andando... ia andando.

Minto:

no meio do escuro e do silêncio morto, de vez em quando, ora duma banda oradora, de vez em quando uma cantiga forte, de bicho vivente, furava o ar: era otéu-téu ativo, que não dormia desde o entrar do último sol e que vigiav sempre, esperando a volta do sol novo, que devia vir e que tardava tanto já...

Só o téu-téu de vez em quando cantava; o seu - quero-quero! - tão claro, indo de lá do fundo da escuridão, ia aguentando a esperança dos homens ,amontoados no redor avermelhado das brasas.

Fora disto, tudo o mais era silêncio; e de movimento, então nem nada.

Minto:

na última tarde em que houve sol, quando o sol ia descambando para o outro lado das coxilhas, rumo do minuano, e de onde sobe a estrela-d’alva, nessa última tarde também desabou uma chuvarada tremenda; foi uma manga d’água que levou um tempão a cair, e durou... e durou...

Os campos foram inundados; as lagoas subiram e se largaram em fitas coleando pelos tacuruzais e banhados, que se juntaram, todos, num: os passos cresceram e todo aquele peso d’água correu para as sangas e das sangas para os arroios, que ficaram bufando, campo fora, campo fora afogando as canhadas, batendo no lombo das coxilhas. E nessas coroas é que ficou sendo o paradouro da animalada, tudo misturado, no assombro. E era terneiros e pumas, tourada e potrilhos, perdizes e guaraxains, tudo amigo, de puro medo. E então!...

Nas copas dos butiás vinham encostar-se bolos de formigas; as cobras se enroscavam na enrediça dos aguapés; e nas estivas do santa-fé e das tiriricas boiavam os ratões e outros miúdos.

E, como a água encheu todas as tocas, entrou também na cobra-grande, a -boiguaçu - que, havia já muitas mãos de luas, dormia quieta, entanguida. Ela então acordou-se e saiu, rabeando.

Começou depois a mortandade dos bichos e a boiguaçu pegou a comer as carniças. Mas só comia os olhos e nada, nada mais.

A água foi baixando, a carniça foi cada vez engrossando, e a cada hora mais olhos a cobra-grande comia. Cada bicho guarda no corpo o sumo do que comeu.

A tambeira que só come trevo maduro, dá no leite o cheiro doce do milho verde; o cerdo que come carne de bagual nem vinte alqueires de mandioca o limpam bem; e o socó tristonho e o biguá matreiro até no sangue tem cheiro de pescado. Assim também, nos homens, que até sem comer nada, dão nos olhos a cor de seus arrancos. O homem de olhos limpos é guapo e mão-aberta; cuidado com os vermelhos; mais cuidado com os amarelos; e, toma tenência doble com os raiados e baços!

Assim foi também, mas doutro jeito, com a boiguaçu, que tantos olhos comeu. Todos - tantos, tantos! que a cobra-grande comeu -, guardavam, entranhado e luzindo, um rastilho da última luz que eles viram do último sol, antes da noite grande que caiu... E os olhos - tantos, tantos! - com um pingo de luz cada um, foram sendo devorados; no princípio um punhado, ao depois uma porção, depois um bocadão, depois, como uma braçada.

E vai, como a boiguaçu não tinha pelos como o boi, nem escamas como o dourado, nem penas como o avestruz, nem casca como o tatu, nem couro grosso como a anta, vai, o seu corpo foi ficando transparente, transparente, clareado pelos miles deluzezinhas, dos tantos olhos que foram esmagados dentro dele, deixando cada qual sua pequena réstia de luz. E vai, afinal, a boiguaçu toda já era uma luzerna, um clarão sem chamas, já era um fogaréu azulado, de luz amarela e triste e fria, saída dos olhos, que fora guardada neles, quando ainda estavam vivos...

Foi assim e foi por isso que os homens, quando pela vez primeira viram a boiguaçu tão demudada, não a conheceram mais. Não conheceram e julgando que era outra, muito outra, chamam-na desde então, de boitatá, cobra de fogo, boitatá, aboitatá!

E muitas vezes a boitatá rondou as rancheiras, faminta, sempre que nem chimarrão. Era então que o téu-téu cantava, como bombeiro.

E os homens, por curiosos, olhavam pasmados, para aquele grande corpo de serpente, transparente - tatá, de fogo - que media mais braças que três laços de conta e ia alumiando baçamente as carquejas... E depois, choravam. Choravam, desatinados do perigo, pois as suas lágrimas também guardavam tanta ou mais luz que só os olhos e a boitatá ainda cobiçava os olhos vivos dos homens, que já os das carniças a enfaravam.

Mas, como dizia:

na escuridão só avultava o clarão baço do corpo do boitatá, e era por ela que, o téu-téu cantava de vigia, em todos os flancos da noite.

Passado um tempo, a boitatá morreu; de pura fraqueza morreu, porque os olhos comidos encheram-lhe o corpo, mas lhe não deram substância, pois que sustância não tem a luz que os olhos em si entranhada tiveram quando vivos. Depois derebolar-se rabiosa nos montes de carniça, sobre os couros pelados, sobre as carnes desfeitas, sobre as cabelamas soltas, sobre as ossamentas esparramadas, o corpo dela desmanchou-se, também como cousa da terra, que se estraga de vez.

E foi então, que a luz que estava presa se desatou por aí.

E até pareceu cousa mandada: o sol apareceu de novo!

Minto:

apareceu sim, mas não veio de supetão. Primeiro foi-se adelgaçando o negrume, foram despontando as estrelas; e estas se foram sumindo no coloreado do céu; depois foi sendo mais claro, mais claro, e logo, na lonjura, começou a subir uma lista de luz... depois a metade de uma cambota de fogo... e já foi o sol que subiu, subiu, subiu, até vir a pino e descambar, como dantes, e desta feita, para igualar o dia e a noite, em metades, para sempre.

Tudo o que morre no mundo se junta à semente de onde nasceu, para nascer de novo: só a luz do boitatá ficou sozinha, nunca mais se juntou com a outra luz de que saiu.

Anda sempre arisca e só, nos lugares onde quanta mais carniça houve, mais se infesta. E no inverno, de entanguida, não aparece e dorme, talvez entocada. Mas de verão, depois da quentura dos mormaços, começa então o seu fadário.

A boitatá, toda enroscada, como uma bola - tatá, de fogo! - empeça a correr o campo, coxilha abaixo, lomba acima, até que horas da noite!

É um fogo amarelo e azulado, que não queima a macega seca nem aquenta a água dos mananciais; e rola, gira, corre, corcoveia e se despenca e arrebenta-se, apagado e quando um menos espera, aparece, outra vez, do mesmo jeito!

Maldito! Te esconjuro!

Quem encontra a boitatá pode até ficar cego... Quando alguém topa com ela só tem dois meios de se livrar: ou ficar parado, muito quieto, de olhos fechados apertados e sem respirar, até ir-se ela embora, ou, se anda a cavalo, desenrodilhar o laço, fazer uma armada grande e atirar-lhe em cima, e tocar a galope, trazendo o laço de arrasto, todo solto, até a ilhada!

A boitatá vem acompanhando o ferro da argola, mas de repente, batendo numa macega, toda se desmancha, e vai esfarinhando a luz, para mutilar-se de novo, com vagar, na aragem que ajuda.

Campeiro precatado! reponte o seu gado da querência do boitatá: o pastiçal, aí faz peste.

Tenho visto!

 

Lenda Origem do Mate – Guaranis

Os cânticos de guerra reboaram na floresta, e Itabaetê marchou com seus homens à procura do grande acampamento. Toda a tribo partira, levando nos olhos o brilho da vitória. Só um homem, enfraquecido pelo peso dos anos, não pudera seguir nesta nova arrancada guerreira. E ficara chorando no oito de uma coxilha, olhar estendido à linha de combatentes que serpenteava pelos caminhos. Mesmo depois da tribo ter desaparecido no véu da grande mata, ainda o velho índio permanecera numa atitude de estátua, mudo, enovelado em mil recordações das pelejas passadas. Voltava, em pensamento. àqueles tempos em que seu braço era o mais temido da tribo, a sua flecha a mais certeira, os seus olhos os mais seguros a perscrutar a imensidão das noites, Agora, fraco, envelhecido, estava condenado a atirar-se inativo ao fundo das matarias. Para seu consolo, restavam-lhe apenas as recordações, e a beleza de Yarí, a mais jovem e a mais formosa de suas filhas - a qual, surda ao convite de muitos guerreiros enamorados, preferira permanecer junto ao velho pai, adoçando-lhe as últimas horas de vida com o mel de seus sorrisos.

Um dia, chegou ao rancho do velho guarani um viageiro estranho - roupagem colorida, olhos lembrando o azul de céus longínquos. O guarani logo percebeu que o homem vinha de terras distantes, muito além das matas do Maracaju, matas que ele cortara, vibrando de entusiasmo, nas caminhadas de outrora. A porta de couro de seu rancho abriu-se inteiramente, recebendo o estrangeiro. Yarí foi buscar os frutos mais lindos da floresta, e o mel mais doce das mirins. E o seu velho pai, cerrando um pouco os olhos para melhor buscar as riquezas de um mundo afastado no tempo, recordava episódios de sua mocidade, entusiasmava-se no relato das caçadas perigosas e dos entreveros ruidosos. Tudo foi feito para que as horas que o estrangeiro passasse naquele rancho fossem cheias de contentamento.

Desceu a noite sobre a terra e a rede foi estendida para o sono do visitante. Seus sonhos foram povoados pela voz suave da virgem, entoando as cantigas guaranis. E no outro dia, quando o sol espiou por entre os ramos mais baixos do arvoredo, foi encontrar o estrangeiro já pronto para seguir viagem.

- Em tuas mãos repousa a generosidade das fontes cristalinas - disse ele ao velho índio. - Em teu coração se abriga a hospitalidade das planuras infindas dos charruas, onde os campos se abrem em mil caminhos sem estender nada que impeça o andar do viageiro; no corpo de tua filha se esconde a pureza dos o1hos-d’água e a alegria das madrugadas de minha terra. Tanta virtude merece ser recompensada. Venho dos domínios de Tupã, o Deus do Bem. Pede o que quiseres!

- Nada mereço pelo que fiz, senhor! -, respondeu o guarani. - Mas como a bondade imensa de Tupã quer pousar suas mãos sabre este rancho pobre, eu pediria mais um pouco de alento para os últimos passos do meu viajar. Outrora, eu guiava pelos caminhos da guerra um sem-fim de guerreiros; hoje, somente minha filha enche de vida as minhas horas derradeiras. Eu quisera um outro companheiro, que atirasse doçura aos meus lábios e descanso ao meu coração. Alguém que fosse meu último amigo, um amigo fiel. Assim, Yarí poderia seguir o rastro da nossa tribo, onde os jovens anseiam por seu amor para continuarem mais confiantes no caminho da vitória. É o que peço, senhor: um amigo fiel, um companheiro que encha de doçura a horas amargas da saudade.

O emissário de Tupã sorriu. Em suas mãos brilhava - recoberta de uma luz estranha - uma planta repleta de folhagens verdes, donde se desprendia um perfume de bondade, talvez o mesmo perfume de Tupã.

 - Deixa crescer esta planta, e bebe de suas folhas! - disse o enviado de Deus. - Bebe de suas folhas, e terás o companheiro que pedes! Esta erva, que traz em si a graça do Tupã, se estenderá pelas matas, trazendo o conforto não só a ti, mas a todos os homens de tua tribo. E tu, Yarí, serás a protetora das florestas que haverão de surgir. Os guerreiros provarão a mesma delícia de teu carinho ao sorver esta bebida; as caminhadas de guerra serão menos fatigantes, e os dias de descanso mais felizes.

E já se afastando do rancho, o enviado de Tupã repetiu:

- Terás um companheiro fiel, velho chefe guarani. E será a protetora de tua raça, Caá-Yarí.  E desde então Caá-Yarí é a senhora dos ervais e a deusa dos ervateiros. Todos merecem dela o máximo de auxilia, se lhe são fiéis. E se algum ervateiro, ainda não satisfeito com aquela proteção, quiser ver a fartura escorrendo de seus dedos, poderá fazer com ela um pacto sagrado. Bastará entrar numa igreja, durante a Semana Santa, e pedir Caá-Yarí em casamento, jurando viver para sempre nos ervais, voltado somente para o culto de sua deusa, sem nunca mais amar outra mulher... Deixará, depois, num ramo de erva-mate, um bilhete no qual marca um encontro com a bela protetora das florestas No dia marcado, deverá penetrar no fundo da mataria, onde Caá-Yarí lhe provará a bravura, interrompendo lhe o caminho com serpentes e feras. E se o ervateiro for corajoso e forte, vencendo a todos os perigos, receberá a recompensa de Yarí.

Sua vida será toda tomada pelo amor da jovem deusa. Suas noites serão cheias de prazer, e seus dias cheios de fartura. Os ervais se despirão por encanto, enchendo os surrões de couro sem que ele tenha gasto o mínimo de esforço. Na hora da pesagem, Caá-Yarí - que é invisível para todos menos para o seu amante - pousará sobre os feixes de erva, aumentando o peso da colheita. A felicidade será eterna para o ervateiro!

Eterna... se ele não quebrar seu juramento... Pois se alguma mulher consegue desnorteá-lo, haverá de lhe entregar, junto às carícias, a sentença da desgraça. Um dia, o ervateiro será encontrado estirado no meio dos ervais, inexplicavelmente morto, ou então correndo pelas florestas, ensanguentado, delirando, louco! É a vingança de CaáYarí! Ela jamais perdoa!

 

Lenda Caverá

 O Caverá é uma região na fronteira-oeste do Rio Grande do Sul, ouriçada de cerros, que se estende entre Rosário do Sul e Alegrete. Na Revolução de 1923, entre os maragatos (os revolucionários) e os chimangos (os legalistas) o Caverá foi o santuário do caudilho maragato Honório Lemes, justamente apelidado "O Leão do Caverá".

Diz a lenda que a região, no passado, era território de uma tribo dos Minuanos, índios bravios dos campos, ao contrário dos Tapes e Guaranis gente mais do mato. Entre esses Minuanos, destacava-se a figura de Camaco, guerreiro forte e altivo, mas vivendo uma paixão não correspondida por Ponaim, a princesinha da tribo, que só amava a própria beleza...

Os melhores frutos de suas caçadas, os mais valiosos troféus de seus combates, Camaco vinha depositar aos pés de Ponaim, sem conseguir dela qualquer demonstração de amor.

Um dia, achando que lhe dava uma tarefa impossível, Ponaim disse que só se casaria com Camaco se ele trouxesse a pele do Cervo Berá para forrar o leito do casamento. O Cervo Berá era um bicho encantado, com o pelo brilhante - daí o seu nome. O mato era dele: Caa-Berá, Caaverá, Caverá, finalmente.

Então Camaco resolveu caçar o cervo encantado. Montando o seu melhor cavalo, armado com vários pares de boleadeiras, saiu a rastrear, dizendo que só voltaria depois de caçar e courear o Cervo Berá.

Depois de muitas luas, num fim de tarde ele avistou a caça tão procurada na aba do cerro. O cervo estava parado, cabeça erguida, desafiador, brilhando contra a luz do sol morrente. Sem medo, Camaco taloneou o cavalo, desprendeu da cintura um par de boleadeiras e fez as pedras zunirem, arrodeando por cima da cabeça. Então, no justo momento em que o Cervo Berá deu um salto para a frente quando o guerreiro atirou as Três Marias, houve um grande estouro no cerro e uma cerração muito forte tapou tudo. Durante três dias e três noites os outros índios campearam Camaco e seu cavalo, mas só acharam uma grande caverna que tina se rasgado na pedra dura do cerro e por onde, quem sabe, Camaco e seu cavalo tinham entrado a galope atrás do Cervo Berá para nunca mais voltar.

 

 

Lenda João de Barro

Contam os índios que, há muito tempo, numa tribo do sul do Brasil, um jovem se apaixonou por uma moça de grande beleza. Melhor dizendo: apaixonaram-se. Jaebé, o moço, foi pedi-la em casamento. O pai dela perguntou:

- Que provas podes dar de sua força para pretender a mão da moça mais formosa da tribo?

- As provas do meu amor! - respondeu o jovem.

O velho gostou da resposta, mas achou o jovem atrevido. Então disse:

- O último pretendente de minha fila falou que ficaria cinco dias em jejum e morreu no quarto dia.

 Eu digo que ficarei nove dias em jejum e não morrerei.

Toda a tribo se espantou com a coragem do jovem apaixonado. O velho ordenou que se desse início à prova.

Enrolaram o rapaz num pesado couro de anta e ficaram dia e noite vigiando para que ele não saísse nem fosse alimentado. A jovem apaixonada chorou e implorou à deusa Lua que o mantivesse vivo para seu amor. O tempo foi passando. Certa manhã, a filha pediu ao pai:

- Já se passaram cinco dias. Não o deixe morrer.

O velho respondeu:

- Ele é arrogante. Falou nas forças do amor. Vamos ver o que acontece.

E esperou até a última hora do novo dia. Então ordenou:

- Vamos ver o que resta do arrogante Jaebé.

Quando abriram o couro da anta, Jaebé saltou ligeiro. Seus olhos brilharam, seu sorriso tinha uma luz mágica. Sua pele estava limpa e cheirava a perfume de amêndoa. Todos se espantaram. E ficaram mais espantados ainda quando o jovem, ao ver sua amada, se pôs a cantar como um pássaro enquanto seu corpo, aos poucos, se transformava num corpo de pássaro!

E exatamente naquele momento, os raios do luar tocaram a jovem apaixonada, que também se viu transformada em um pássaro. E, então, ela saiu voando atrás de Jaebé, que a chamava para a floresta onde desapareceu para sempre. Contam os índios que foi assim que nasceu o pássaro joão-de-barro.

A prova do grande amor que uniu esses dois jovens está no cuidado com que constroem sua casa e protegem os filhotes. E os homens amam o joão-de-barro porque lembram da força de Jaebé, uma força que vinha do amor e foi maior que a morte.

 

Lenda A panelinha

Na bela cidade de Cruz Alta, nos começos deste século, havia uma grande fonte em forma de poço, de onde partia uma sanga, hoje tudo urbanizado no cruzamento das ruas Andrade Neves e General Portinho, quase no centro da cidade.

Essa fonte, pela sua forma de poço, recebeu o nome de Fonte da Panelinha e ali muita gente boa, praticamente toda a zona nobre da cidade, abastecia-se de água. E era crença geral a de que beber água da Panelinha era amarrar-se definitivamente a Cruz Alta. Quem bebesse dessa água, mesmo que partisse, logo dava um jeito de voltar.

Muitas moças cruzaltenses, namoradas de oficiais do Exército de outras plagas ou de viajantes que eventualmente passavam por Cruz Alta, sempre davam um jeito de lhes servir um copo de água da Fonte da Panelinha.

 

Lenda Lobisomem do Cemitério

Aproximadamente na década de 70, na rua 2 de Novembro, onde até hoje se encontra o Cemitério Católico da cidade de Rio Grande, atuava o famoso “Lobisomem do Cemitério”.  Pessoas que passavam tarde da noite por ali diziam que um estranho bicho aparecia sempre a meia noite. Assim que alguém passava, ele pulava do alto muro do cemitério e assustava as pessoas. Os que eram assustados por ele, revelavam que o bicho era meio homem meio animal. Foi a partir desse depoimento que as pessoas começaram a acreditar que se tratava de um lobisomem. Notaram também que o bicho uivava quando agia.

Mas o segurança da Viação Férrea (que ficava em frente ao Cemitério) não acreditava no que estava acontecendo. Então ele resolveu vigiar uma noite inteira o cemitério para ver se o que falavam era verídico. Assim que deu meia noite em seu relógio ele ficou mais atento em tudo que estava em sua volta. Foi aí que ele ouviu um uivo muito alto, no instante uma senhora passava pela frente do cemitério (uma mendiga), e o lobisomem saia do muro. O segurança começou a atirar, e o lobisomem saiu em disparada. Desse dia em diante nunca mais se ouviu falar nele, mas nada dura para sempre, a qualquer momento pode aparecer um para voltar a assustar a cidade.

 

Lenda Padre morto na Tamandaré

No século passado, por volta de 1880, havia um Padre em nossa cidade, cujo nome a igreja mantém em sigilo até hoje; certo dia começaram a suspeitar deste, pois as crianças não queriam ir à missa ou aproximar-se do padre. Tudo isto devido ao fato de o padre aliciar as meninas, filhas das beatas. Para a sociedade daquela época isto era completamente incompreensível, pois o padre era uma das pessoas em que todos confiavam. Assim ele foi condenado a morte, sendo enforcado em plena praça pública (Tamandaré). Antes de morrer jogou uma praga para a cidade, dizendo que ela nunca se desenvolveria e que todas as vezes que acontecesse algum ato público ao ar livre choveria pelo menos dia. Há quem confirme que estas pragas realmente aconteceram. E acontecem.

 

 Lenda da Lagoa Vermelha

 A primeira tentativa dos padres jesuítas, que resultou na fundação de 18 Povos Missioneiros no Rio Grande do Sul, deu em nada. Os bandeirantes de Piratininga, que haviam arrasado as reduções do Guairá caçando e escravizando índios para a escravidão das lavouras de cana-de-açúcar de São Paulo e Rio de Janeiro, quando souberam que os padres tinham vindo mais para o sul e erguido suas aldeias no Tape, vieram aqui fazer o que sabiam fazer. Assim e aos poucos, os padres tiveram que refluir para o oeste, fazendo agora na volta o mesmo caminho que tinham feito na vinda.

E nessa fuga tratavam de levar consigo tudo o que podiam carregar. O que não podiam, queimavam ou enterravam. Casas, plantações, até igrejas foram incendiadas, para que nada ficasse aos bandeirantes.

Pois diz que numa dessas avançadas pelo Planalto, no rumo da Serra, uma carreta carregada de ouro e prata, fugindo das Missões.

Ali vinha à alfaia das igrejas, candelabros, castiçais, moedas, ouro em pó, um verdadeiro tesouro cujo peso faziam os bois peludearem. Com a carreta, alguns índios e padres jesuítas e atrás deles, sedentos de sangue e ouro, os bandeirantes.

Ao chegarem às margens de uma lagoa, não puderam mais. Desuniram os bois e atiraram a carreta com toda a sua preciosa carga na lagoa, muito profunda. E aí então os padres mataram os índios carreteiros e atiraram os corpos n'água, para que não contassem a ninguém onde estava o tesouro. Com o sangue dos mortos, a lagoa ficou vermelha.

E lá está, até hoje. Ao seu redor, cresceu uma bela cidade, que tomou seu nome - Lagoa Vermelha. E cada um dos seus moradores que passa na beira das águas coloradas, lembra que ali ninguém se banha, nem pesca, e segundo a tradição, a lagoa não tem fundo. E nas secas mais fortes e nas chuvaradas mais bravas, o nível da lagoa é sempre o mesmo.

 

Lenda do Quero-Quero

Quando a Sagrada Família fugia para o Egito, com medo das espadas dos soldados do rei Herodes, muitas vezes precisou se

esconder no campo, quando os perseguidores chegavam perto. Numa dessas vezes, Nossa Senhora, escondendo o Divino Piá, pediu a todos os bichos que fizessem silêncio, que não cantassem, porque os soldados do rei podiam ouvir e dar fé. Quero-quero, não: queria porque queria cantar. E dizia: Quero! Quero! Quero! E tanto disse que foi amaldiçoado por Nossa Senhora: ficou querendo até hoje.

 

Lenda São Sepé

Sepé era um índio valente e bom, que lutou contra os estrangeiros para defender a terra das missões. Ele era predestinado por Deus e São Miguel, tinha nascido com um lunar na testa. Nas noites escuras ou em pleno combate, o lunar de Sepé brilhava, guiando seus soldados missioneiros. Quando ele morreu, vencido pelas armas e o número de portugueses e espanhóis, Deus Nosso Senhor retirou de sua testa o lunar, que colocou no céu dos pampas para ser o guia de todos os gaúchos - é o Cruzeiro do Sul.

 

Lenda da Casa de MBororé  (Missões)

No tempo dos Sete Povos das Missões, havia um índio velho muito fiel aos padres jesuítas, chamado MBororé.  Com a chegada dos invasores portugueses e espanhóis, os padres precisaram fugir levando em carretas os tesouros e bens que pudessem carregar. Assim, amontoaram o muito que não podiam levar consigo – ouro, prata, alfaias, joias, tudo!- e construíram ao redor uma casa branca, sem porta e sem janela. Para evitar a descoberta da casa pelo inimigo e o consequente saqueio, deixaram o velho índio fiel MBororé cuidando, com ordens severas de só entregar o tesouro quando os jesuítas voltassem às Missões. Mas os jesuítas nunca mais voltaram. Com o passar dos anos, o velho índio morreu e o tempo foi marcando tudo, deixando as ruínas de pé como as cicatrizes de um sonho que acabou. Acabou? Não. A Casa de MBororé continua lá num mato das Missões, imaculadamente branca, cuidada pela alma do índio fiel que ainda espera a volta dos jesuítas.

Às vezes, algum mateiro lenhador ou caçador- dá com ela, de repente, num campestre qualquer. Imediatamente dá-se conta de que é a Casa de MBororé, cheia de tesouros. Resolve então marcar bem o local para voltar com ferramentas e abrir a casa que não tem porta nem janela. Guarda bem o lugar na memória pelas árvores tais e tais, pela direção do sol e coisas assim. Sai, volta com ferramentas, só que nunca mais acha de novo a Casa Branca de MBororé, sem porta e sem janela.

 

Lenda Salamanca do Jarau

No tempo dos padres jesuítas, existia um moço sacristão no Povo de Santo Tomé, na Argentina, do outro lado do rio Uruguai. Ele morava numa cela de pedra nos fundos da própria igreja, na praça principal da aldeia. Ora, num verão mui forte, com um sol de rachar, ele não conseguiu dormir a sesta. Vai então, levantou-se, assoleado e foi até a beira da lagoa refrescar-se. Levava consigo uma guampa, que usava como copo.

Coisa estranha: a lagoa toda fervia e largava um vapor sufocante e qual não é a surpresa do sacristão ao ver sair d'água a própria Teiniaguá, na forma de uma lagartixa com a cabeça de fogo, colorada como um carbúnculo. Ele, homem religioso, sabia que a Teiniaguá - os padres diziam isso!- tinha partes com o Diabo Vermelho, o Anhangá-Pitã, que tentava os homens e arrastava todos para o inferno. Mas sabia também que a Teiniaguá era mulher, uma princesa moura encantada jamais tocada por homem. Aquele pelo qual se apaixonasse seria feliz para sempre.

Assim, num gesto rápido, aprisionou a Teiniagá na guampa e voltou correndo para a igreja, sem se importar com o calor. Passou o dia inteiro metido na cela, inquieto, louco que chegasse à noite.

Quando as sombras finalmente desceram sobre a aldeia, ele não se sofreu: destampou a guampa para ver a Teiniaguá. Aí, o milagre: a Teiniaguá se transformou na princesa moura, que sorriu para ele e pediu vinho, com os lábios vermelhos. Ora, vinho só o da Santa Missa. Louco de amor, ele não pensou duas vezes: roubou o vinho sagrado e assim, bebendo e amando, eles passaram a noite. No outro dia, o sacristão não prestava para nada. Mas, quando chegou à noite, tudo se repetiu. E assim foi até que os padres finalmente desconfiaram e numa madrugada invadiram a cela do sacristão. A princesa moura transformou-se em Teiniaguá e fugiu para as barrancas do rio Uruguai, mas o moço, embriagado pelo vinho e de amor foi preso e acorrentado. Como o crime era horrível - contra Deus e a Igreja! - foi condenado a morrer no garrote vil, na praça, diante da igreja que ele tinha profanado. No dia da execução, todo o Povo se reuniu diante da igreja de São Tomé. Então, lá das barrancas do rio Uruguai a Teiniaguá sentiu que seu amado corria perigo. Aí, com todo o poder de sua magia, começou a procurar o sacristão abrindo rombos na terra, em valos enormes, rasgando tudo. Por um desses valos ela finalmente chegou à igreja bem na hora em que o carrasco ia garrotear o sacristão. O que se viu foi um estouro muito grande, nessa hora, parecia que o mundo inteiro vinha abaixo, houve fogo, fumaça e enxofre e tudo afundou e tudo desapareceu de vista. E quando as coisas clarearam a Teiniaguá tinha libertado o sacristão e voltado com ele para as barrancas do rio Uruguai. Vai daí, atravessou o rio para o lado de cá e, ficou uns três dias em São Francisco de Borja, procurando um lugar afastado onde os dois apaixonados pudessem viver em paz. Assim, foram parar no Cerro do Jarau, no Quaraim, onde descobriram uma caverna muito funda e comprida. E lá foram morar, os dois. Essa caverna, no alto do Cerro, ficou encantada. Virou Salamanca, que quer dizer "gruta mágica", a Salamanca do Jarau. Quem tivesse coragem de entrar lá, passasse 7 Provas e conseguisse sair, ficava com o corpo fechado e com sorte no amor e no dinheiro para o resto da vida. Na Salamanca do Jarau a Teiniaguá e o sacristão se tornaram os pais dos primeiros gaúchos do Rio Grande do Sul. Ah, ali vive também a Mãe do Ouro, na forma de uma enorme bola de fogo. Às vezes, nas tardes ameaçando chuva, dá um grande estouro numa das cabeças do Cerro e pula uma elevação para outra. Muita gente viu.

 

Lenda O Negrinho do Pastoreiro

No tempo da escravidão havia um estancieiro muito rico, que criava bois e cavalos. Era muito mau e gostava apenas de seu filho, também maldoso, e de um cavalo baio, muito veloz. Entre seus escravos havia um menino muito obediente e trabalhador, a quem ninguém havia se dado o trabalho de dar um nome, sendo chamado de Negrinho. Montava muito bem, e era encarregado de pastorear os cavalos. O estancieiro foi, um dia, desafiado para uma corrida de cavalos por um vizinho. O escolhido obviamente foi o baio, que seria montado pelo Negrinho. Os dois cavalos eram excelentes corredores, mas,  no dia da corrida, sabendo que corria por sua vida, o Negrinho conseguiu impor uma certa vantagem. Quase ao término da corrida, com o baio na frente, este se assusta e empina, perdendo a corrida. Ao voltarem à fazenda, o estancieiro disse ao Negrinho que este passaria trinta dias e trinta noites pastoreando o cavalo baio e outros trinta cavalos, mas, antes de deixá-lo ir, chicoteou-o até se cansar. O pequeno escravo, louco de dor, levou os cavalos para o pastoreio e amarrou o baio. Não aguentando de dor e cansaço, adormeceu. Algumas corujas que voejavam em torno assustaram os cavalos, que fugiram. O Negrinho acordou, mas devido à cerração não conseguiu encontrá-los. O filho do estancieiro, que gostava de maltratar o menino, viu tudo e foi contar a seu pai. O Negrinho foi novamente chicoteado sem piedade, e lhe foi ordenado que voltasse para procurar os cavalos. Voltou para o pastoreio, mancando e sangrando, levando um toco de vela. Cada pingo de cera que caía, transformava-se numa luz tão brilhante, que logo tudo ficou tão iluminado que parecia dia, tornando-se fácil reunir os cavalos. De madrugada, o filho do estancieiro, que ainda não estava satisfeito com suas maldades, soltou e espantou o cavalo baio, indo contar a seu pai que o Negrinho tinha adormecido novamente e deixado os cavalos escapar. O estancieiro deu-lhe a terceira surra de chicote, até deixar o menino como morto. Mandou jogá-lo sobre um formigueiro, para não ter que mandar enterrá-lo. O corpinho foi imediatamente atacado pelas formigas, para regozijo do filho do estancieiro. Na manhã seguinte, quando o estancieiro voltou ao formigueiro, levou um imenso susto, pois o menino estava de pé, todo risonho, perto do cavalo baio e dos outros trinta cavalos. Enquanto o estancieiro olhava, o Negrinho montou no baio e partiu acompanhado dos outros cavalos, em uma nuvem de poeira dourada, e dizem que muitos já o viram passar dessa maneira.

Ele some apenas três dias por ano, para visitar o formigueiro, pois as formigas tornaram-se suas amigas. Até hoje, quando se perde alguma coisa, basta chamar pelo Negrinho do Pastoreio, que ele consegue encontrar, lenda ou não, posso autenticar por experiência própria que ele realmente ajuda a encontrar objetos perdidos.

 

Lenda A moça do cemitério

Em Porto Alegre, num ponto de taxi que fica na rua, Otto Niemayer, esquina Cavalhada, às vezes aparece uma moça loira, lindíssima, usando sempre um vestido vermelho, muito bonito e chamativo e sempre à noite. Ela toma um taxi e manda tocar para um lugar qualquer que passe pelo cemitério da Vila Nova, mas ao passar por este, ela simplesmente desaparece. Vários motoristas porto-alegrenses, muitos dos quais vivos até hoje, transportaram a moça-fantasma e repetem a mesma história.

 

Lenda O minhocão

Diz-se que na Lagoa do Armazém em Tramandaí aparecia nas águas do minhocão, uma espécie de serpente monstruosa, muito grande, olhos de fogo verde, língua também de fogo, com pelos na cabeça. Virava embarcações com rabanadas e comia nas margens, porcos e galinhas. Hoje, o povo acredita que o Minhocão deixou a lagoa e voltou para o mar.

 

Lenda Boiguaçu

Num tempo muito antigo, muito, houve uma noite tão comprida que pareceu que nunca mais haveria luz do dia. Noite escura como breu, sem lume no céu, sem vento, sem serenada e sem rumores, sem cheiro dos pastos maduros nem das flores da mataria.

Os homens viveram abichornados, na tristeza dura; e porque churrasco não havia, não mais sopravam labaredas nos fogões e passavam comendo canjica insossa; os borralhos estavam se apagando e era preciso poupar os tições...

Os olhos andavam tão enfarados da noite, que ficavam parados, horas e horas, olhando, sem ver as brasas vermelhas do nhanduvai... as brasas somente, porque as faíscas, que alegram, não saltavam, por falta do sopro forte de bocas contentes.

Naquela escuridão fechada nenhum tapejara seria capaz de cruzar pelos trilhos do campo, nenhum flete crioulo teria faro nem ouvido nem vista para bater na querência; até nem sorro daria no seu próprio rastro!

E a noite velha ia andando... ia andando.

Minto:

no meio do escuro e do silêncio morto, de vez em quando, ora duma banda oradora, de vez em quando uma cantiga forte, de bicho vivente, furava o ar: era otéu-téu ativo, que não dormia desde o entrar do último sol e que vigiav sempre, esperando a volta do sol novo, que devia vir e que tardava tanto já...

Só o téu-téu de vez em quando cantava; o seu - quero-quero! - tão claro, indo de lá do fundo da escuridão, ia aguentando a esperança dos homens, amontoados no redor avermelhado das brasas.

Fora disto, tudo o mais era silêncio; e de movimento, então nem nada.

Minto:

na última tarde em que houve sol, quando o sol ia descambando para o outro lado das coxilhas, rumo do minuano, e de onde sobe a estrela-d’alva, nessa última tarde também desabou uma chuvarada tremenda; foi uma manga d’água que levou um tempão a cair, e durou... e durou...

Os campos foram inundados; as lagoas subiram e se largaram em fitas coleando pelos tacuruzais e banhados, que se juntaram, todos, num: os passos cresceram e todo aquele peso d’água correu para as sangas e das sangas para os arroios, que ficaram bufando, campo fora, campo fora afogando as canhadas, batendo no lombo das coxilhas. E nessas coroas é que ficou sendo o paradouro da animalada, tudo misturado, no assombro. E era terneiros e pumas, tourada e potrilhos, perdizes e guaraxains, tudo amigo, de puro medo. E então!...

Nas copas dos butiás vinham encostar-se bolos de formigas; as cobras se enroscavam na enrediça dos aguapés; e nas estivas do santa-fé e das tiriricas boiavam os ratões e outros miúdos.

E, como a água encheu todas as tocas, entrou também na cobra-grande, a -boiguaçu - que, havia já muitas mãos de luas, dormia quieta, entanguida. Ela então acordou-se e saiu, rabeando.

Começou depois a mortandade dos bichos e a boiguaçu pegou a comer as carniças. Mas só comia os olhos e nada, nada mais.

A água foi baixando, a carniça foi cada vez engrossando, e a cada hora mais olhos a cobra-grande comia. Cada bicho guarda no corpo o sumo do que comeu.

A tambeira que só come trevo maduro, dá no leite o cheiro doce do milho verde; o cerdo que come carne de bagual nem vinte alqueires de mandioca o limpam bem; e o socó tristonho e o biguá matreiro até no sangue tem cheiro de pescado. Assim também, nos homens, que até sem comer nada, dão nos olhos a cor de seus arrancos. O homem de olhos limpos é guapo e mão-aberta; cuidado com os vermelhos; mais cuidado com os amarelos; e, toma tenência doble com os raiados e baços!...

Assim foi também, mas doutro jeito, com a boiguaçu, que tantos olhos comeu. Todos - tantos, tantos! que a cobra-grande comeu -, guardavam, entranhado e luzindo, um rastilho da última luz que eles viram do último sol, antes da noite grande que caiu... E os olhos - tantos, tantos! - com um pingo de luz cada um, foram sendo devorados; no princípio um punhado, ao depois uma porção, depois um bocadão, depois, como uma braçada.

E vai, como a boiguaçu não tinha pelos como o boi, nem escamas como o dourado, nem penas como o avestruz, nem casca como o tatu, nem couro grosso como a anta, vai o seu corpo foi ficando transparente, transparente, clareado pelos miles deluzezinhas, dos tantos olhos que foram esmagados dentro dele, deixando cada qual sua pequena réstia de luz. E vai, afinal, a boiguaçu toda já era uma luzerna, um clarão sem chamas, já era um fogaréu azulado, de luz amarela e triste e fria, saída dos olhos, que fora guardada neles, quando ainda estavam vivos...

Foi assim e foi por isso que os homens, quando pela vez primeira viram a boiguaçu tão demudada, não a conheceram mais. Não conheceram e julgando que era outra, muito outra, chamam-na desde então, de boitatá, cobra de fogo, boitatá, aboitatá!

E muitas vezes a boitatá rondou as rancheiras, faminta, sempre que nem chimarrão. Era então que o téu-téu cantava, como bombeiro.

E os homens, por curiosos, olhavam pasmados, para aquele grande corpo de serpente, transparente - tatá, de fogo - que media mais braças que três laços de conta e ia alumiando baçamente as carquejas... E depois, choravam. Choravam, desatinados do perigo, pois as suas lágrimas também guardavam tanta ou mais luz que só os olhos e a boitatá ainda cobiçava os olhos vivos dos homens, que já os das carniças a enfaravam...

Mas, como dizia:

na escuridão só avultava o clarão baço do corpo do boitatá, e era por ela que, o téu-téu cantava de vigia, em todos os flancos da noite.

Passado um tempo, a boitatá morreu; de pura fraqueza morreu, porque os olhos comidos encheram-lhe o corpo, mas lhe não deram substância, pois que sustância não tem a luz que os olhos em si entranhada tiveram quando vivos. Depois derebolar-se rabiosa nos montes de carniça, sobre os couros pelados, sobre as carnes desfeitas, sobre as cabelamas soltas, sobre as ossamentas esparramadas, o corpo dela desmanchou-se, também como cousa da terra, que se estraga de vez.

E foi então, que a luz que estava presa se desatou por aí. E até pareceu cousa mandada: o sol apareceu de novo!

Minto:

apareceu sim, mas não veio de supetão. Primeiro foi-se adelgaçando o negrume, foram despontando as estrelas; e estas se foram sumindo no coloreado do céu; depois foi sendo mais claro, mais claro, e logo, na lonjura, começou a subir uma lista de luz... depois a metade de uma cambota de fogo... e já foi o sol que subiu, subiu, subiu, até vir a pino e descambar, como dantes, e desta feita, para igualar o dia e a noite, em metades, para sempre.

Tudo o que morre no mundo se junta à semente de onde nasceu, para nascer de novo: só a luz do boitatá ficou sozinha, nunca mais se juntou com a outra luz de que saiu.

Anda sempre arisca e só, nos lugares onde quanta mais carniça houve, mais se infesta. E no inverno, de entanguida, não aparece e dorme, talvez entocada. Mas de verão, depois da quentura dos mormaços, começa então o seu fadário.

A boitatá, toda enroscada, como uma bola - tatá, de fogo! - empeça a correr o campo, coxilha abaixo, lomba acima, até que horas da noite!

É um fogo amarelo e azulado, que não queima a macega seca nem aquenta a água dos mananciais; e rola, gira, corre, corcoveia e se despenca e arrebenta-se, apagado e quando um menos espera, aparece, outra vez, do mesmo jeito!

Maldito! Te esconjuro!

Quem encontra a boitatá pode até ficar cego... Quando alguém topa com ela só tem dois meios de se livrar: ou ficar parado, muito quieto, de olhos fechados apertados e sem respirar, até ir-se ela embora, ou, se anda a cavalo, desenrodilhar o laço, fazer uma armada grande e atirar-lhe em cima, e tocar a galope, trazendo o laço de arrasto, todo solto, até a ilhada!

A boitatá vem acompanhando o ferro da argola..., mas de repente, batendo numa macega, toda se desmancha, e vai esfarinhando a luz, para mutilar-se de novo, com vagar, na aragem que ajuda.

Campeiro precatado! reponte o seu gado da querência do boitatá: o pastiçal, aí faz peste. Tenho visto!

 

Lenda Origem do Mate – Guaranis

Os cânticos de guerra reboaram na floresta, e Itabaetê marchou com seus homens à procura do grande acampamento. Toda a tribo partira, levando nos olhos o brilho da vitória. Só um homem, enfraquecido pelo peso dos anos, não pudera seguir nesta nova arrancada guerreira. E ficara chorando no oito de uma coxilha, olhar estendido à linha de combatentes que serpenteava pelos caminhos. Mesmo depois da tribo ter desaparecido no véu da grande mata, ainda o velho índio permanecera numa atitude de estátua, mudo, enovelado em mil recordações das pelejas passadas. Voltava, em pensamento. àqueles tempos em que seu braço era o mais temido da tribo, a sua flecha a mais certeira, os seus olhos os mais seguros a perscrutar a imensidão das noites, Agora, fraco, envelhecido, estava condenado a atirar-se inativo ao fundo das matarias. Para seu consolo, restavam-lhe apenas as recordações, e a beleza de Yarí, a mais jovem e a mais formosa de suas filhas - a qual, surda ao convite de muitos guerreiros enamorados, preferira permanecer junto ao velho pai, adoçando-lhe as últimas horas de vida com o mel de seus sorrisos.

Um dia, chegou ao rancho do velho guarani um viageiro estranho - roupagem colorida, olhos lembrando o azul de céus longínquos. O guarani logo percebeu que o homem vinha de terras distantes, muito além das matas do Maracaju, matas que ele cortara, vibrando de entusiasmo, nas caminhadas de outrora. A porta de couro de seu rancho abriu-se inteiramente, recebendo o estrangeiro. Yarí foi buscar os frutos mais lindos da floresta, e o mel mais doce das mirins. E o seu velho pai, cerrando um pouco os olhos para melhor buscar as riquezas de um mundo afastado no tempo, recordava episódios de sua mocidade, entusiasmava-se no relato das caçadas perigosas e dos entreveros ruidosos. Tudo foi feito para que as horas que o estrangeiro passasse naquele rancho fossem cheias de contentamento.

Desceu a noite sobre a terra e a rede foi estendida para o sono do visitante. Seus sonhos foram povoados pela voz suave da virgem, entoando as cantigas guaranis. E no outro dia, quando o sol espiou por entre os ramos mais baixos do arvoredo, foi encontrar o estrangeiro já pronto para seguir viagem.

- Em tuas mãos repousa a generosidade das fontes cristalinas... - disse ele ao velho índio. - Em teu coração se abriga a hospitalidade das planuras infindas dos charruas, onde os campos se abrem em mil caminhos sem estender nada que impeça o andar do viageiro; no corpo de tua filha se esconde a pureza dos o1hos-d’água e a alegria das madrugadas de minha terra. Tanta virtude merece ser recompensada. Venho dos domínios de Tupã, o Deus do Bem. Pede o que quiseres!

- Nada mereço pelo que fiz, senhor! -, respondeu o guarani. - Mas como a bondade imensa de Tupã quer pousar suas mãos sabre este rancho pobre, eu pediria mais um pouco de alento para os últimos passos do meu viajar. Outrora, eu guiava pelos caminhos da guerra um sem-fim de guerreiros; hoje, somente minha filha enche de vida as minhas horas derradeiras. Eu quisera um outro companheiro, que atirasse doçura aos meus lábios e descanso ao meu coração. Alguém que fosse meu último amigo, um amigo fiel. Assim, Yarí poderia seguir o rastro da nossa tribo, onde os jovens anseiam por seu amor para continuarem mais confiantes no caminho da vitória. É o que peço, senhor: um amigo fiel, um companheiro que encha de doçura a horas amargas da saudade.

O emissário de Tupã sorriu. Em suas mãos brilhava - recoberta de uma luz estranha - uma planta repleta de folhagens verdes, donde se desprendia um perfume de bondade, talvez o mesmo perfume de Tupã.

 - Deixa crescer esta planta, e bebe de suas folhas! - disse o enviado de Deus. - Bebe de suas folhas, e terás o companheiro que pedes! Esta erva, que traz em si a graça do Tupã, se estenderá pelas matas, trazendo o conforto não só a ti, mas a todos os homens de tua tribo. E tu, Yarí, serás a protetora das florestas que haverão de surgir. Os guerreiros provarão a mesma delícia de teu carinho ao sorver esta bebida; as caminhadas de guerra serão menos fatigantes, e os dias de descanso mais felizes.

E já se afastando do rancho, o enviado de Tupã repetiu:

- Terás um companheiro fiel, velho chefe guarani. E será a protetora de tua raça, Caá-Yarí.  E desde então Caá-Yarí é a senhora dos ervais e a deusa dos ervateiros. Todos merecem dela o máximo de auxilia, se lhe são fiéis. E se algum ervateiro, ainda não satisfeito com aquela proteção, quiser ver a fartura escorrendo de seus dedos, poderá fazer com ela um pacto sagrado. Bastará entrar numa igreja, durante a Semana Santa, e pedir Caá-Yarí em casamento, jurando viver para sempre nos ervais, voltado somente para o culto de sua deusa, sem nunca mais amar outra mulher... Deixará, depois, num ramo de erva-mate, um bilhete no qual marca um encontro com a bela protetora das florestas No dia marcado, deverá penetrar no fundo da mataria, onde Caá-Yarí lhe provará a bravura, interrompendo lhe o caminho com serpentes e feras. E se o ervateiro for corajoso e forte, vencendo a todos os perigos, receberá a recompensa de Yarí.

Sua vida será toda tomada pelo amor da jovem deusa. Suas noites serão cheias de prazer, e seus dias cheios de fartura. Os ervais se despirão por encanto, enchendo os surrões de couro sem que ele tenha gasto o mínimo de esforço. Na hora da pesagem, Caá-Yarí - que é invisível para todos menos para o seu amante - pousará sobre os feixes de erva, aumentando o peso da colheita. A felicidade será eterna para o ervateiro!

Eterna... se ele não quebrar seu juramento... Pois se alguma mulher consegue desnorteá-lo, haverá de lhe entregar, junto às carícias, a sentença da desgraça. Um dia, o ervateiro será encontrado estirado no meio dos ervais, inexplicavelmente morto, ou então correndo pelas florestas, ensanguentado, delirando, louco! É a vingança de CaáYarí! Ela jamais perdoa!

 

Lenda Caverá

O Caverá é uma região na fronteira-oeste do Rio Grande do Sul, ouriçada de cerros, que se estende entre Rosário do Sul e Alegrete. Na Revolução de 1923, entre os maragatos (os revolucionários) e os chimangos (os legalistas) o Caverá foi o santuário do caudilho maragato Honório Lemes, justamente apelidado "O Leão do Caverá".

Diz a lenda que a região, no passado, era território de uma tribo dos Minuanos, índios bravios dos campos, ao contrário dos Tapes e Guaranis gente mais do mato. Entre esses Minuanos, destacava-se a figura de Camaco, guerreiro forte e altivo, mas vivendo uma paixão não correspondida por Ponaim, a princesinha da tribo, que só amava a própria beleza...

Os melhores frutos de suas caçadas, os mais valiosos troféus de seus combates, Camaco vinha depositar aos pés de Ponaim, sem conseguir dela qualquer demonstração de amor.

Um dia, achando que lhe dava uma tarefa impossível, Ponaim disse que só se casaria com Camaco se ele trouxesse a pele do Cervo Berá para forrar o leito do casamento. O Cervo Berá era um bicho encantado, com o pelo brilhante - daí o seu nome. O mato era dele: Caa-Berá, Caaverá, Caverá, finalmente.

Então Camaco resolveu caçar o cervo encantado. Montando o seu melhor cavalo, armado com vários pares de boleadeiras, saiu a rastrear, dizendo que só voltaria depois de caçar e courear o Cervo Berá.

Depois de muitas luas, num fim de tarde ele avistou a caça tão procurada na aba do cerro. O cervo estava parado, cabeça erguida, desafiador, brilhando contra a luz do sol morrente. Sem medo, Camaco taloneou o cavalo, desprendeu da cintura um par de boleadeiras e fez as pedras zunirem, arrodeando por cima da cabeça. Então, no justo momento em que o Cervo Berá deu um salto para a frente quando o guerreiro atirou as Três Marias, houve um grande estouro no cerro e uma cerração muito forte tapou tudo. Durante três dias e três noites os outros índios campearam Camaco e seu cavalo, mas só acharam uma grande caverna que tina se rasgado na pedra dura do cerro e por onde, quem sabe, Camaco e seu cavalo tinham entrado a galope atrás do Cervo Berá para nunca mais voltar.

 

Lenda João de Barro

Contam os índios que, há muito tempo, numa tribo do sul do Brasil, um jovem se apaixonou por uma moça de grande beleza. Melhor dizendo: apaixonaram-se. Jaebé, o moço, foi pedi-la em casamento. O pai dela perguntou:

- Que provas podes dar de sua força para pretender a mão da moça mais formosa da tribo?

- As provas do meu amor! - respondeu o jovem.

O velho gostou da resposta, mas achou o jovem atrevido. Então disse:

- O último pretendente de minha fila falou que ficaria cinco dias em jejum e morreu no quarto dia.

 Eu digo que ficarei nove dias em jejum e não morrerei.

Toda a tribo se espantou com a coragem do jovem apaixonado. O velho ordenou que se desse início à prova.

Enrolaram o rapaz num pesado couro de anta e ficaram dia e noite vigiando para que ele não saísse nem fosse alimentado. A jovem apaixonada chorou e implorou à deusa Lua que o mantivesse vivo para seu amor. O tempo foi passando. Certa manhã, a filha pediu ao pai:

- Já se passaram cinco dias. Não o deixe morrer.

O velho respondeu:

- Ele é arrogante. Falou nas forças do amor. Vamos ver o que acontece.

E esperou até a última hora do novo dia. Então ordenou:

- Vamos ver o que resta do arrogante Jaebé.

Quando abriram o couro da anta, Jaebé saltou ligeiro. Seus olhos brilharam, seu sorriso tinha uma luz mágica. Sua pele estava limpa e cheirava a perfume de amêndoa. Todos se espantaram. E ficaram mais espantados ainda quando o jovem, ao ver sua amada, se pôs a cantar como um pássaro enquanto seu corpo, aos poucos, se transformava num corpo de pássaro!

E exatamente naquele momento, os raios do luar tocaram a jovem apaixonada, que também se viu transformada em um pássaro. E, então, ela saiu voando atrás de Jaebé, que a chamava para a floresta onde desapareceu para sempre

Contam os índios que foi assim que nasceu o pássaro joão-de-barro.

A prova do grande amor que uniu esses dois jovens está no cuidado com que constroem sua casa e protegem os filhotes. E os homens amam o joão-de-barro porque lembram da força de Jaebé, uma força que vinha do amor e foi maior que a morte.

 

Lenda A panelinha

Na bela cidade de Cruz Alta, nos começos deste século, havia uma grande fonte em forma de poço, de onde partia uma sanga, hoje tudo urbanizado no cruzamento das ruas Andrade Neves e General Portinho, quase no centro da cidade.

Essa fonte, pela sua forma de poço, recebeu o nome de Fonte da Panelinha e ali muita gente boa, praticamente toda a zona nobre da cidade, abastecia-se de água. E era crença geral a de que beber água da Panelinha era amarrar-se definitivamente a Cruz Alta. Quem bebesse dessa água, mesmo que partisse, logo dava um jeito de voltar.

Muitas moças cruzaltenses, namoradas de oficiais do Exército de outras plagas ou de viajantes que eventualmente passavam por Cruz Alta, sempre davam um jeito de lhes servir um copo de água da Fonte da Panelinha.

 

Lenda Lobisomem do Cemitério

Aproximadamente na década de 70, na rua 2 de Novembro, onde até hoje se encontra o Cemitério Católico da cidade de Rio Grande, atuava o famoso “Lobisomem do Cemitério”.  Pessoas que passavam tarde da noite por ali diziam que um estranho bicho aparecia sempre a meia noite. Assim que alguém passava, ele pulava do alto muro do cemitério e assustava as pessoas. Os que eram assustados por ele, revelavam que o bicho era meio homem meio animal. Foi a partir desse depoimento que as pessoas começaram a acreditar que se tratava de um lobisomem. Notaram também que o bicho uivava quando agia.

Mas o segurança da Viação Férrea (que ficava em frente ao Cemitério) não acreditava no que estava acontecendo. Então ele resolveu vigiar uma noite inteira o cemitério para ver se o que falavam era verídico. Assim que deu meia noite em seu relógio ele ficou mais atento em tudo que estava em sua volta. Foi aí que ele ouviu um uivo muito alto, no instante uma senhora passava pela frente do cemitério (uma mendiga), e o lobisomem saia do muro. O segurança começou a atirar, e o lobisomem saiu em disparada. Desse dia em diante nunca mais se ouviu falar nele, mas nada dura para sempre, a qualquer momento pode aparecer um para voltar a assustar a cidade.

 

Lenda Padre morto na Tamandaré

No século passado, por volta de 1880, havia um Padre em nossa cidade, cujo nome a igreja mantém em sigilo até hoje; certo dia começaram a suspeitar deste, pois as crianças não queriam ir à missa ou aproximar-se do padre. Tudo isto devido ao fato de o padre aliciar as meninas, filhas das beatas. Para a sociedade daquela época isto era completamente incompreensível, pois o padre era uma das pessoas em que todos confiavam. Assim ele foi condenado a morte, sendo enforcado em plena praça pública (Tamandaré). Antes de morrer jogou uma praga para a cidade, dizendo que ela nunca se desenvolveria e que todas as vezes que acontecesse algum ato público ao ar livre choveria pelo menos dia. Há quem confirme que estas pragas realmente aconteceram. E acontecem.

 

Lenda da Lagoa Vermelha

A primeira tentativa dos padres jesuítas, que resultou na fundação de 18 Povos Missioneiros no Rio Grande do Sul, deu em nada. Os bandeirantes de Piratininga, que haviam arrasado as reduções do Guairá caçando e escravizando índios para a escravidão das lavouras de cana-de-açúcar de São Paulo e Rio de Janeiro, quando souberam que os padres tinham vindo mais para o sul e erguido suas aldeias no Tape, vieram aqui fazer o que sabiam fazer. Assim e aos poucos, os padres tiveram que refluir para o oeste, fazendo agora na volta o mesmo caminho que tinham feito na vinda.

E nessa fuga tratavam de levar consigo tudo o que podiam carregar. O que não podiam, queimavam ou enterravam. Casas, plantações, até igrejas foram incendiadas, para que nada ficasse aos bandeirantes.

Pois diz que numa dessas avançadas pelo Planalto, no rumo da Serra, uma carreta carregada de ouro e prata, fugindo das Missões.

Ali vinha à alfaia das igrejas, candelabros, castiçais, moedas, ouro em pó, um verdadeiro tesouro cujo peso faziam os bois peludearem. Com a carreta, alguns índios e padres jesuítas e atrás deles, sedentos de sangue e ouro, os bandeirantes.

Ao chegarem às margens de uma lagoa, não puderam mais. Desuniram os bois e atiraram a carreta com toda a sua preciosa carga na lagoa, muito profunda. E aí então os padres mataram os índios carreteiros e atiraram os corpos n'água, para que não contassem a ninguém onde estava o tesouro. Com o sangue dos mortos, a lagoa ficou vermelha.

E lá está, até hoje. Ao seu redor, cresceu uma bela cidade, que tomou seu nome - Lagoa Vermelha. E cada um dos seus moradores que passa na beira das águas coloradas, lembra que ali ninguém se banha, nem pesca, e segundo a tradição, a lagoa não tem fundo. E nas secas mais fortes e nas chuvaradas mais bravas, o nível da lagoa é sempre o mesmo.

 

Lenda do Quero-Quero

Quando a Sagrada Família fugia para o Egito, com medo das espadas dos soldados do rei Herodes, muitas vezes precisou se esconder no campo, quando os perseguidores chegavam perto. Numa dessas vezes, Nossa Senhora, escondendo o Divino Piá, pediu a todos os bichos que fizessem silêncio, que não cantassem, porque os soldados do rei podiam ouvir e dar fé. Quero-quero, não: queria porque queria cantar. E dizia: Quero! Quero! Quero! E tanto disse que foi amaldiçoado por Nossa Senhora: ficou querendo até hoje.

 

Lenda do Umbu

 O Umbu é uma árvore grande e folhuda que cresce nos pampas. Muitas vezes é solitária, erguendo-se única no descampado e atrai os campeiros, os tropeiros, os carreteiros que fazem pouso sob sua proteção. O tronco do Umbu é muito grosso, as raízes fora da terra são grandes, mas ninguém usa a madeira da árvore - não serve para nada, mesmo. É farelenta, quebradiça, parece feita de uma casca em cima da outra. Por quê?

Pois não vê que quando Deus Nosso Senhor criou o mundo, ao fazer as árvores perguntava a cada uma delas o que queria na terra. A laranjeira, o pessegueiro, a macieira, a pereira e assim por diante, quiseram frutos deliciosos. O pau-ferro, o angico, o ipê, o açoita-cavalo, a guajuvira, pediram madeira forte.

- E tu, Umbu, queres também frutos doces e madeira forte?

- Nada, Senhor. - respondeu o Umbu. - Eu quero apenas folhas largas para as sesteadas dos gaúchos e uma madeira tão fraca que se quebre ao menor esforço.

- A sombra, Eu compreendo - disse o Senhor. - Mas porque a madeira fraca?

- Porque eu não quero que algum dia façam dos meus braços a cruz para o martírio de um justo. E Deus Nosso Senhor, que teve o filho crucificado, atendeu o pedido do Umbu.

 

 Lenda de Soledade

Há muitos e muitos anos, um grupo de mineiros vagava numa caravana de carretas entre o Planalto e a Serra do Rio Grande do Sul. Muitas famílias completas faziam parte do grupo e elas queriam fundar uma vila, uma cidade, mas o local de assentamento só poderia ser escolhido por Nossa Senhora, cuja imagem sagrada eles traziam numa carreta, com altar e tudo.

E assim vagavam de pago em pago, acampavam, armavam o altar, passavam aí alguns dias e, como não recebiam sinal de Nossa Senhora, recarregavam as carretas e iam embora.

Até que um dia pararam num campo lindo, banhado pela luz de Deus, com uma estranha beleza solitária. Ao descarregarem as carretas, alguém teria dito: "Que soledade!"

Bueno, acamparam e tal e depois de alguns dias, recarregaram tudo prontos para partir de novo. Quando chegou a hora da partida, quebrou-se o eixo da carreta que levava a imagem de Nossa Senhora. Descarregaram tudo, consertaram o eixo e quiseram partir, mais uma vez. Surpresa: quebrou-se o eixo, de novo. Outra vez descarregaram, consertaram o eixo e se dispuseram a partir.

Quando se quebrou o eixo pela terceira vez, eles compreenderam que era um aviso: Nossa Senhora tinha escolhido, afinal, a sua querência. Então, ali, naquele chão sagrado, eles ergueram ranchos, galpões, estâncias. E Nossa Senhora abençoou o esforço, a fé e a dedicação  de todos, fazendo prosperar Soledade, a terra escolhida pela própria Mãe de Deus.

 

Lenda Saci-Pererê

Saci-Pererê é uma lenda do folclore brasileiro e originou-se entre as tribos indígenas do sul do Brasil. O saci possui apenas uma perna, usa um gorro vermelho e sempre está com um cachimbo na boca. A principal característica do saci é a travessura, ele é muito brincalhão, diverte-se com os animais e com as pessoas. Por ser  muito moleque ele acaba causando transtornos, como: fazer o feijão queimar, esconder objetos, jogar os dedais das costureiras em buracos e etc.

Segundo a lenda, o Saci está nos redemoinhos de vento e pode ser capturado jogando uma peneira sobre os redemoinhos. Após a captura, deve-se retirar o capuz da criatura para garantir sua obediência e prendê-lo em uma garrafa.

Diz também a lenda que os Sacis nascem em brotos de bambus, onde vivem sete anos e, após esse tempo, vivem mais setenta e sete para atentar a vida dos humanos e animais, depois morrem e viram um cogumelo venenoso ou uma orelha de pau. http://brasilescola.uol.com.br/folclore/saci-perere.htm

 

 

Tradicionalismo

O tradicionalismo tem aspectos especiais e específicos, que são os culturais, divididos em ciências e artes. Os aspectos especiais são cinco e todos são fundamentais. Faltando qualquer deles, já não se fala em tradicionalismo.

. Aspecto cívico – É o que primeiro se nota nas atividades do CTG. Lá estão as bandeiras e os hinos, do Brasil e do Rio Grande do Sul, nas festas, nas solenidades, nos desfiles de cavalaria e nas sedes são comuns os quadros retratando os nossos heróis e figuras patrióticas. O gaúcho tem duas pátrias: a Pátria Grande, que é o Brasil e Pátria Pequena, ou Chica, que é o Rio Grande do Sul.

. Aspecto filosófico – O aspecto filosófico do Tradicionalismo é dado pelos quatro documento básicos que norteiam obrigatoriamente (aprovado em três congressos e uma convenção) todos os centros de tradições gaúchas. O primeiro é a tese “O sentido e o valor do Tradicionalismo Gaúcho”, de Barbosa Lessa, aprovada no I Congresso Tradicionalista do RGS, em Santa Maria, julho de 1954. O segundo é a tese “A função acultuadora dos centros de tradições gaúchas”, de Carlos Galvão Krebs, aprovada no II Congresso Tradicionalista do RGS, julho de 1955. O terceiro é a Carta de Princípios do Movimento Tradicionalista do RGS, de Glaucus Saraiva, aprovada no VIII Congresso Tradicionalista do RGS, em Taquara, julho de 1961 e o quarto é a tese “A função social do MTG”, redigida por Antônio Augusto Fagundes sob orientação de Onésimo Carneiro Duarte, aprovada pela Convenção Tradicionalista de Lagoa Vermelha, em julho de 1984. Esses quatro documentos fundamentais ditam a filosofia do Tradicionalismo, dando-lhe unidade e tornando-o um movimento. Se não, haveria entidades tradicionalistas com orientação própria, sem um sentido comum, como sucede em outros países.

. Aspecto ético – Esse é o aspecto da filosofia não escrita do tradicionalismo, que diz sobre o permitido e o proibido dentro das entidades tradicionalistas, mas informalmente. Porque não se realizam bailes de carnaval dentro de um CTG? Porque o Papai Noel não entra em CTG? Porque não existe homossexual no tradicionalismo? Porque não existe droga? Perguntas frequentes mas, nada disso é proibido pelos estatutos e regimentos internos e, no entanto, a ética do tradicionalismo disciplina esses assuntos sem o uso das sanções, apenas por sua força intrínseca, forte como tudo o que a gente leva naturalmente dentro de si.

. Aspecto associativo – Toda a entidade tradicionalista reveste obrigatoriamente o caráter de associação civil, organizada e registrada de acordo com a lei brasileira. O tradicionalismo é obrigatoriamente coletivo. Individual, quando muito, a tradição.

. Aspecto recreativo – Além de tudo o que oferece, o tradicionalismo precisa oferecer aos associados também recreação. Lá está a roda de mate, o churrasco, o arroz-de-carreteiro, o cigarro palheiro e o fandango, que é o momento de recreação por excelência do tradicionalismo.

E, entre os aspectos específicos, ou culturais, do tradicionalismo, estão as ciências e as artes.As ciências são todas aquelas que, com seus conhecimentos, podem auxiliar o movimento no que se propõe. A história diz do passado glorioso, homens e momentos que construíram o Rio Grande do Sul. A geografia localiza pagos e querências, rios, lagoas, cerros, onde às vezes as lendas também estão presentes. A linguística estuda o falar gauchesco. A zoologia, bichos como o cavalo e o boi, fundamentais na história do gaúcho. A botânica, estuda árvores e plantas. Sem essa ciência, como saberíamos sobre a erva-mate? E, além dessas, muitas outras ciências.

Para o poeta gaúcho a poesia é um fruir de amor por seus pagos, o qual pede para ser compartilhado. Desta forma, contam sua história  na forma verbal, escrita e musical, o que resulta em conservar viva a memória de uma cultura.

 

Semana Farroupilha

Rio Grande do Sul em festa, bandeiras tremulando pelos pampas e o Povo Gaúcho hospitaleiro abre suas porteiras para receber visitantes. As festividades da Semana Farroupilha trazem alegria contagiante ao seu povo, os Gaúchos, mais soltos e audazes, nossas prendas mais belas e faceiras, orando a Deus Nosso Senhor, nosso Patrão Velho que abençoe sempre nossa querência com a fé, honra e orgulho, para que seu Povo altaneiro possa gritar aos quatro cantos da terra:

 SOMOS GAÚCHOS TCHÊ, E VIVA O RIO GRANDE DO SUL.

 

 

Modismo no Rio Grande do Sul

A História registra que, na década de 40, devido a invasão do modismo no Rio Grande do Sul, vindo de outros países, principalmente dos Estados Unidos, grupos de tradicionalistas gaúchos conservadores levantaram suas vozes em favor da conservação da cultura, costumes e tradições do povo gaúcho. Nesse período foi criada a ronda gaúcha, que passou a ser conhecida como ronda crioula. A ronda crioula acontecia entre os dias 7 e 20 de setembro para festejar a Independência do Brasil e a Revolução Farroupilha. Neste período os gaúchos tradicionalistas se reuniam para escrever e conversar sobre a Revolução Farroupilha, contar histórias de combates e coragem dos gaúchos nessa época, declamar poesias e realizar fandango. Em 1947, pequenos grupos de jovens também se levantaram contra este modismo que estava tentando destruir as tradições e a cultura do povo gaúcho. Estudantes do colégio Júlio de Castilhos, em Porto Alegre, periodicamente se reuniam para falar sobre o tradicionalismo gaúcho. À meia-noite do dia 7 de setembro de 1947 nasce a chama crioula, iniciativa deste grupo de estudantes para homenagear os soldados mortos na Revolução Farroupilha e na  Segunda Guerra Mundial. A chama crioula que acabava de nascer significava a liberdade e a confraternização entre os povos do mundo.

No ano seguinte este mesmo grupo de estudantes fundou o "Movimento Tradicionalista Gaúcho" com o objetivo de proteger a cultura, costumes e tradições dos gaúchos. Com o surgimento deste movimento em Porto Alegre, o tradicionalismo do interior do estado começou a fortificar-se.

No dia 11 de dezembro de 1964, através da Lei 4.850, a Assembléia Estadual oficializou a ronda gaúcha, com o nome de Semana Farroupilha. O período de comemoração passou a ser de uma semana, do dia 14 a 20 de setembro. Em 1996, através de lei federal, o dia 20 de setembro foi oficializado o dia do gaúcho ou dia da liberdade, no qual são homenageados os heróis da Revolução Farroupilha. Nesta semana é intensa a programação dos CTG's no Brasil e em outros países. No dia 14 de Setembro a chama crioula chega, na maioria, dos 2500 CTG's espalhados por todo o Brasil. A chama vai ao Parque da Harmonia, no centro de Porto Alegre, onde ficam acampadas, centenas de CTG's, durante a Semana Farroupilha. A chama crioula vai também ao Palácio Piratini, sede do governo do estado. O próprio governador acende o candeeiro com a chama crioula, a qual ficará guarnecida por soldados da Brigada Militar até o dia 20 de Setembro. Durante a Semana Farroupilha são realizados estudos, palestras, atividades campeiras, culturais e também grandes bailes gauchescos.

No dia 20 de Setembro acontece o encerramento das festividades com desfiles, nos quais participam prendas e peões montados a cavalo.

No último minuto do dia 20 de setembro é apagada a chama crioula em alguns CTG's. No Rio Grande do Sul e em outros estados do Brasil, a chama permanecerá acesa por todo o ano, até chegar à próxima Semana Farroupilha, quando será novamente distribuída para os CTG's.

 

  

 

 

POESIAS TRADICIONALISTAS

 

Tradição

Nosso Povo é diferente

Pois prima pela Tradição

Amamos a Deus primeiro

E depois nosso rincão

Para defender nossa terra

Pagamos o preço com sangue

O gaúcho que se preza

Já nasce montando a cavalo

E antes de trocar os dentes

Já é guapo em tiros de laço.

A gaúcha já nasce formosa

Quando moça tem nome de prenda

Para mostrar o valor da mulher

Pois “prenda” é joia rara.

 

 

A Galope

Galopeio neste chão sagrado

Sob o céu tisnado de azul

Sentido a doce brisa do vento

Atravessando as coxilhas do Sul

Sentindo o cheiro da terra

Olhando o verde dos campos

Lembrando da triste História

Que marcou o meu Rio Grande

Meu olhar triste se distancia

Busca a Rosa dos Ventos

Pois cada um dos quadrantes

Participou de nossa história

Galopando para o Sul

Chegamos ao Uruguai

Galopando para o Norte

O rumo é Santa Catarina

Galopando para Leste

Encontramos o Atlântico

Galopando para Oeste

Deparo-me com a Argentina

Aí estão nossas fronteiras

Por onde bravos passaram

Para uma luta brutal e desigual

Manchando o solo de sangue

De seus filhos, bravos farrapos

Bem como, de nossos inimigos

Com cavalarias e tiros de canhão

Ceifando vidas incontáveis

Até que o grito ecoa: É A LIBERTAÇÃO.

 

Quero-Quero

Ao guerrear os gaúchos

Pelas planícies do Sul

Tinham como companhia

O Quero-Quero gaudério

Diz à lenda que ele traz

A Alma de um Gaúcho

Que ao dar seu último suspiro

Agradeceu sua bravura a Deus

Pousou nas asas da ave

Que o levou para o alto

Entregando o guapo filho

Nos braços de Nosso Senhor

Depois voltou para  pampa

E, até hoje, seus gritos lancinantes

Acordam os rio-grandenses

Pois dos pagos é  guardião.

 

 Um amargo chimarrão

No amargo do chimarrão que sorvo, vejo

O céu em negritude coberto de estrelas

Um violão que canta canções de dor

A brisa suave trazendo  doces aromas

O vento que leva aos quatro cantos

Meu canto triste em desafio à vida

Na ânsia que me persegue e consome

Ir léguas à frente, buscar meu amor

A lágrima pungida que pela face escorre

Com sabor do sal que a carne salga

A fumaça do braseiro que arde os olhos

Resíduos de lembranças nefastas

De uma faceira chinoca de tranças

Uma vida de ilusão passageira

Sinto cravado no peito flecha certeira

Saudade, que derruba o valente guerreiro.

 

Amanhecer dos Pampas

Garoa fria, manhãs cerradas,

Geada cobrindo as planícies

É clarear do dia nos Pampas

O toque da alvorada que avisa,

Que tropas cruzarão coxilhas

Enrolados em seus ponches

Para proteção do frio e chuva

Calçados de botas de couro

Com esporas de metal ou prata

Com seu chapéu e barbicacho

No pescoço, lenço colorido amarrado

Cantando aos quatro ventos,

Sou gaúcho, guerreiro e altaneiro

“Viva o Rio Grande do Sul”.

 

Gaúcho Hospitaleiro

O povo gaúcho recebe

Suas visitas de braços abertos

Com um aperto forte de mão

E um sorriso franco e honesto.

Oferece uma pinga pura

Um mate amargo bem quente

Convida para galope nas serras

No almoço saboroso churrasco

Mas não magoe o Gaúcho

Não fale mal de sua terra

E não bula sua prenda

Para não conhecer seu rebenque.

 

Prenda

A prenda do Rio Grande

A tradição respeita

É uma mulher faceira

Nas festas de meu Pampa

Os vestidos são coloridos

Feitos com panos de chita

Com passa fitas e rendas

Cobrindo o tornozelo

Também usam bombachas

Que belas pernas escondem

Usam colar sem decote

Para encobrir os seios

Usam meia de cor branca

Com sapatilha preta

Cabelos soltos ao vento

Com flores enfeitando

Às vezes, bem penteados

E com fitas trançados

A prenda já nasceu bela

Não usa subterfúgios

Pois suave brisa do Sul

Dá colorido a pele

Também pinta de carmim

Seus doces lábios carnudos

Que esperam com ansiedade

Os beijos de seu gaúcho.

 

 Orgulho Gaúcho

Nosso Povo é diferente

Pois prima pela Tradição

Tem até gente que diga

Que gosta e procura guerra

É que amamos a Deus primeiro

Depois o solo Riograndense

Para defender nossa terra

Pagamos o preço com sangue

O Gaúcho que se preza

Já nasce montando a cavalo

E antes de trocar os dentes

Já é guapo em tiros de laço.

 

Pampas

Uma noite estrelada ilumina os pagos

Entrego-me às lembranças saudosas

De um passado que ficou na memória

De um velho com chapéu de barbicacho

Que ao pé da fogueira contava causos

Histórias de guerras de nosso Rio Grande

Olho o firmamento, lua cheia distante

Vejo o velho sentado sorvendo o amargo

Entretendo com lendas, Anjos crianças

Mais um bravo que deu adeus à querência

E com o Patrão Celestial faz uma oração

À Maria, prenda mais linda do firmamento.

 

 Gaúcho

O Gaúcho para ser feliz

Não precisa montar na “grana”

Basta olhar o céu estrelado

E ver a formosa lua de prata

Abraçar sua terra amada

Saber que quando a noite chega

E volta ao ninho que é o rancho

Espera-lhe uma bela prenda

Que contagiada pela saudade

Atira-se logo em seus braços

E, enquanto a lenha arde

Crepitando no fogo do chão

Em uma cama de campanha

Sob a luz do candeeiro

Sente o carinho sensual da prenda

Banhada em água de cheiro

E esquece seus medos e mágoas

Pois se a lida do dia é o gado

A lida da noite é “amor e paixão”.

 

Erva mate

Vem de um passado distante

O uso da erva mate

Pois os índios Guaranis

Usavam para beberagem

Colocavam no Porongo

Sorvendo em  canudo de cana

Diz à lenda que Tupã

Para proteger os seus filhos

Semeou-a nas terras do Sul

Abençoando seu povo

Para curar as feridas da Alma

E todos os males do corpo

Esta herança atravessou

O tempo e as gerações

Hoje, o gaúcho, após a lida

Sorve seu amargo mate

Olhando o distante horizonte

Beijando os lábios da bomba.